- "Ahhh, deixa eu ir jogar bola na chuva, deixa....não tem nada demais...
Só porque eu tô com 48 graus de febre, tendo alucinações e vomitando?!?!"
- "Não, praga... já falei que não... sossega o rabo aí. É pro teu bem."
Mas há situações que, só depois de barbudo, fui perceber o achincalhe, a humilhação e o ridículo nos quais eu me meteria, não fosse a insistente e pertinente proibição de meus pais.
Quando fedelho, eu tinha uma vontade inexplicável de me vestir de múmia.
Sei lá porquê.
E não podia ser com fantasia, ou com máscara, nada disso.
Era com atadura mesmo. Tinha que ser uma múmia original.
Enchi tanto o saco da minha mãe, a ponto de fazê-la prometer que na volta do trabalho traria milhares de pacotes de ataduras para o meu complexo processo de mumificação.
Sequer passava pela minha cabeça a magnitude do papelão que poderia fazer.
naquele dia, eu mal comi, tamanha a ansiedade. Passei a manhã e a tarde ensaiando aquele passo clássico de múmia, sabe?
Caminhando sem dobrar os joelhos, de bracinho esticado pra frente...
Ela trouxe.
Mas, segundo ela, um pacotinho só, porque tinha acabado na farmácia.
Eu fiquei muito revoltado, porque só deu pra enfaixar o braço, até perto do cotovelo, e eu queria o corpo todo.
A cara, inclusive.
Só alguns anos depois eu fui ter uma noção do bem que ela me fez.
Também houve uma época, em que tudo que mais desejava era ter um "tapa olho".
Nesta feita - infelizmente -, minha aporrinhação suplantou a bondade e paciência dos meus pais que - sem mais alternativas - fizeram em casa mesmo, um apetrecho desses pra mim, com um pedaço de couro que sobrou da joelheira da calça de abrigo.
Usei bem contente pelo prédio, pelo colégio, na rua...
O resultado é que, até hoje, sou alvo de chacota por causa disso...


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